Entre passos e silêncios, o chão frio se apresenta,
Rígido, mas vivo, desenhando destinos com força lenta.
Cada pedra guarda segredos, memórias sem rostos,
Histórias de quem veio antes, moldadas em desgostos.
No tropeço, há lições que o horizonte sussurra,
Na persistência, o olhar se afasta da amargura.
Há brilho no distante, promessa de chegada,
Mas é no caminho que a vida é trabalhada. Boa noite.
O cheiro que antecede a chuva invade o peito,
Carregando com ele um peso antigo, um jeito
De lembrar que tudo é cíclico e vai renascer,
Mesmo quando o mundo insiste em doer.
O céu se curva ao solo em gotas dispersas,
Rios pequenos, contornando promessas.
A terra bebe o que o céu oferece,
Num pacto eterno que nunca desfalece. Boa noite.
Há raízes que não cedem ao vento,
Firmes no solo, ao sabor do tempo.
Elas não veem o horizonte que toca o mar,
Mas sentem a profundidade que as faz ficar.
O vento sussurra mudanças, convites ao risco,
Mas as raízes sabem o valor de um abrigo.
Não se movem, mas sustentam o existir,
Sabendo que às vezes ficar é resistir. Boa noite.
Na varanda, a cadeira espera o que não vem,
Como se o tempo fosse devolver alguém.
Ela balança sozinha ao sopro do dia,
Lembrança viva de uma antiga companhia.
O sol repousa no tecido desbotado,
Como quem acaricia o passado.
E embora vazia, há um quê de plenitude,
Na aceitação serena de sua solitude. Boa noite.
O trem corta o campo em linha perfeita,
Como quem fere o verde de forma eleita.
O som do ferro no trilho é uma melodia,
Que carrega consigo o peso da travessia.
Há vagões cheios de histórias e sonhos,
E o tempo que passa, como donos
Do instante que nunca mais será,
Deixando apenas fumaça no ar. Boa noite.
O rio não pede permissão para passar,
Ele segue, contornando ou quebrando o lugar.
Nas suas curvas, há sabedoria escondida,
Pois nem sempre o caminho reto é o da vida.
Das águas que correm, aprendemos o tempo,
A paciência de moldar o próprio momento.
E quando o rio encontra o mar no fim,
Ele percebe que o destino sempre esteve ali. Boa noite.
Dois mundos se encaram, separados por um muro,
Um erguido em pedra, frio e duro.
De um lado, risos; do outro, silêncios,
Mas ambos carregam desejos imensos.
Quem construiu a barreira sabia o preço,
Mas não o que ela roubava em apreço.
O muro é memória e também divisão,
Mas pode ser ponte, se houver intenção. Boa noite.
As mãos que tocam a terra conhecem seu valor,
São mãos de esforço, de luta e de dor.
Cada calo é um troféu de dias intensos,
Cada ruga conta histórias de momentos densos.
O lavrador planta sem certeza da colheita,
Mas confia que a terra jamais é desfeita.
E mesmo que o céu negue a chuva esperada,
Ele segue, fiel à promessa da jornada. Boa noite.
O tempo dança nos dedos do relojoeiro,
Cada engrenagem gira em um compasso certeiro.
Mas o que ele conserta não é apenas o relógio,
É o ritmo da vida em seu mistério lógico.
O tique-taque ecoa na sala pequena,
Como um coração que nunca se envenena.
E ao ajustar os ponteiros com precisão,
Ele alinha o caos à ordem da criação. Boa noite.
A paisagem corre sem pedir licença,
Cada detalhe é fugaz em sua essência.
A janela do trem é um portal para o agora,
Que leva tudo embora enquanto explora.
Rostos desconhecidos passam em flashes,
Cidades e campos, montanhas e ranchos.
E no movimento incessante do vagão,
A gente percebe que a vida é boa demais.. Boa noite.