A cidade adormece em seu manto de concreto,
Ruas vazias guardam passos já esquecidos,
Sob a luz amarelada dos postes,
Histórias sussurram no vento noturno.
O asfalto desgastado é testemunha,
Do peso das jornadas diárias,
Do eco de vozes que se perdem na pressa,
E do som dos motores que nunca descansam.
Prédios erguem-se como gigantes cansados,
Carregando em suas paredes as marcas do tempo,
Cada janela reflete um universo,
De vidas que coexistem sem se encontrar.
Nos becos, a solidão faz sua morada,
Onde sombras dançam ao ritmo de um gato errante,
Enquanto o murmúrio da água nos bueiros,
Canta uma melodia esquecida pela manhã.
O silêncio da cidade é profundo e estrondoso,
Um paradoxo que abraça o ouvinte atento,
Entre o cessar do caos e o início do repouso,
Há poesia na quietude que poucos sentem.
Mas logo, como um relógio que não para,
A madrugada entrega o palco ao alvorecer,
E o silêncio, cúmplice da noite,
É dissolvido pelo despertar dos homens. Boa noite.
Sob o céu cinzento, o som começa,
Pingos hesitantes tocam a terra seca,
Como dedos tímidos em um piano ancestral,
Compondo uma melodia que ecoa sem igual.
O aroma do chão molhado sobe aos ares,
Mistura-se à memória dos dias de infância,
Quando correr sob a chuva era liberdade,
E a vida parecia eterna em sua abundância.
A chuva cresce, ritmada e constante,
Um balé de gotas que caem sem descanso,
Tocam telhados, folhas e rios,
Criam um concerto de milhares de fios.
Pessoas se abrigam, mas a terra celebra,
Cada planta ergue os braços em reverência,
O ciclo se renova, a sede se extingue,
E a vida, agradecida, segue em frente.
E quando o último pingo toca o chão,
Um arco surge no horizonte como gratidão,
A chuva parte, deixando seu rastro,
De renascimento no mundo vasto. Boa noite.
O relógio marca, impassível, as horas,
Segundos avançam, prisioneiros de sua marcha,
Enquanto o tempo, imaterial e vasto,
Foge de todas as tentativas de captura.
É na infância que o tempo se estica,
Dias parecem eternos, cheios de descobertas,
Mas ao crescermos, ele se apressa,
Como um rio caudaloso que não olha para trás.
O relógio nos dita tarefas e prazos,
Mas o tempo, rebelde, segue suas leis,
Não se curva aos ponteiros ou agendas,
É dono de um mistério que ninguém desfez.
Nas rugas de um rosto, há sua assinatura,
Na memória esquecida, seu rastro apagado,
E no instante em que paramos para sentir,
O tempo nos mostra que não é algo a medir.
Então, viva além dos ponteiros que giram,
Pois o tempo não espera nem volta atrás,
É na vivência plena e no instante presente,
Que ele deixa sua dádiva mais capaz. Boa noite.
O mundo desfila pela janela do trem,
Paisagens se dissolvem como sonhos fugazes,
Campos dourados se alternam com montanhas,
Enquanto rios serpenteiam em suas margens.
Cada estação é uma pausa na viagem,
Um vislumbre de histórias que não serão contadas,
Rostos desconhecidos esperam na plataforma,
Carregando bagagens de vidas entrelaçadas.
O ritmo do trem embala pensamentos,
Sons metálicos misturam-se ao vento,
E cada curva revela um cenário distinto,
Um mosaico de cenários que nunca é extinto.
Ao fundo, uma criança observa com encanto,
Perguntando-se para onde vão os trilhos,
Enquanto um viajante solitário reflete,
Sobre as distâncias que percorreu em sigilo.
E quando o trem para, a janela se fecha,
O mundo lá fora continua a girar,
Mas quem olhou pela janela jamais esquece,
Os cenários que aprendeu a amar. Boa noite.
Havia um jardim onde a vida florescia,
Suas flores dançavam ao som da brisa,
Mas agora jaz silencioso e esquecido,
Um eco de tempos em que era querido.
Os bancos de madeira estão cobertos de musgo,
O caminho de pedras perdeu o brilho,
Entre ervas daninhas, há resquícios de beleza,
Um testemunho da natureza e sua persistência.
As árvores ainda estendem seus galhos,
Abrigo para pássaros que cantam em segredo,
E o vento, como um contador de histórias.
Mesmo no abandono, o jardim vive,
Sua essência resiste ao descaso humano. Boa noite.